Raimundo Denizar dos Santos Pires

 

ENSINO DE HISTÓRIA FRENTE ÀS TECNOLOGIAS DIGITAIS: UM OLHAR SOBRE A PRÁTICA DOCENTE

 

O homem, ao longo dos tempos, construiu tecnologias capazes de mediar o trabalho e intervir na natureza. Para muitos autores, tecnologias são instrumentos situados na história e na cultura da sociedade para realizar suas atividades produtivas. Trata-se de “diferentes equipamentos, instrumentos, recursos, produtos, processos, ferramentas (...)” (KENSKI, 2009, p. 15).

 

Para Longo (1984), a “tecnologia é o conjunto de conhecimentos científicos ou empíricos empregados na produção e comercialização de bens e serviços”. Steensma (1996), define tecnologia como “um corpo de conhecimentos, ferramentas e técnicas, derivados da ciência e da experiência prática, que é usado no desenvolvimento, projeto, produção, e aplicação de produtos, processos, sistemas e serviços”.

 

A sociedade contemporânea vive um momento de revolução da informação e da comunicação fundamentadas em grande medida no desenvolvimento das tecnologias digitais de informação e comunicação (TICs), as quais conduzem a novos contextos de produção, novas formas de relação, de modos de viver, pensar e agir diferenciados de outros tempos.

 

Ao longo das últimas décadas, as tecnologias digitais da informação e comunicação têm alterado nossas formas de trabalhar, de se comunicar, de se relacionar e de aprender, perpassando também pela educação. Na educação, as TICs têm sido incorporadas às práticas docentes como meio para promover aprendizagens mais significativas, com o objetivo de apoiar os professores na implementação de metodologias de ensino ativas, alinhando o processo de ensino-aprendizagem à realidade dos estudantes.

 

O contexto atual requer um professor que não seja apenas um transmissor do conhecimento, mas também um instigador dentro de uma sociedade que tem demandado sujeitos críticos, competentes, criativos e flexíveis. Para Cortella (2014) o professor passa a ser o agente mediador nesse processo.

 

 É nesse cenário que abordaremos o ensino de História tendo como auxílio às Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação. Repensar as práticas pedagógicas, inserindo recursos tecnológicos nos remete a uma reflexão sobre o ato docente. Onde por meio de softwares, sites educativos, filmes, músicas, podcasts, dentre outros recursos digitais, constitui-se em estratégia de estímulo à aprendizagem de forma lúdica, na qual o professor deve atuar como mediador do ensino/aprendizagem.

 

Deixemos claro que o uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação no ensino de História não impede o professor de continuar utilizando outros meios didáticos, pelo contrário, serve como mais uma metodologia a ser implantada no dia a dia da sala de aula. Quanto maior forem os recursos, as ferramentas e os dispositivos utilizados pelo docente, melhor será o aprendizado dos discentes.

 

Fonseca (2009), em estudos sobre o ensino de História, afirma que “ao incorporar diferentes linguagens no processo de ensino de História, reconhecemos não só a estreita ligação entre os saberes escolares e a vida social, mas também a necessidade de (re)construirmos nosso conceito de ensino e aprendizagem”.

 

O ensinar e o aprender com o auxílio da tecnologia é muito mais constante, proporcionando um espaço real de aprendizagem entre o mundo físico e digital. Viabiliza aos professores diversificadas formas de ensinar e aos alunos novas formas de aprender; e para a disciplina de História favorece assimilação do conteúdo, a criticidade, a criatividade, desde o início do planejamento da aula, passando pela elaboração das propostas curriculares e até o registro curricular dos alunos que concluem o ensino médio.

 

Ao adotar as TICs, objetivando o melhoramento das intencionalidades pedagógicas, deve-se investir na inserção de cursos de formação norteada para a utilização das tecnologias modernas, acompanhando, também, as potencialidades e os conhecimentos prévios dos educandos, estabelecendo uma rede de aprendizado recíproco. Porque o uso de tecnologias o aluno já usa, transformar a tecnologia numa ferramenta de aprendizagem e não somente de uma gama de informação, deve ser a principal finalidade.

 

Considerando esses fatores, pretende-se através deste artigo fazer uma reflexão referente à importância da TICs no processo de ensino e aprendizagem nas aulas de História, destacando os avanços, desafios e dificuldades que é se fazer educação em nosso país.

 

A História tem sua origem nas investigações de Heródoto. A História que pensamos seria então a reinterpretação do estudo da ação humana ao longo do tempo. Através do estudo dos processos e dos eventos ocorridos no passado. Esse estudo histórico começa quando os homens encontram os elementos de sua existência nas realizações dos seus antepassados, prosseguindo até as suas realizações no presente. (BLOCH, 1986).

 

Os historiadores usam várias fontes de informação para entender os processos históricos contidas em filmes, músicas, revistas, jornais, entrevistas orais, instrumentos patrimoniais, objetos arqueológicos, entre outros. Block (1986) afirma que em sua evolução, a História procurou interpretar todo o contexto social, político, cultural e econômico dentro das relações humanas. Bem como o tempo (temporalidades históricas), os sujeitos históricos, o trabalho, o poder, a cultura, a memória e a cidadania. É a ocasião de revisar mecanismos do perceber e do agir.

 

Quando se fala que a História é construída por todos os sujeitos históricos, “o sujeito não é homogêneo, na medida em que sua identidade está em um constante processo de produção e sofre transformações, pois o sujeito se encontra em um ambiente marcado pela heterogeneidade e por conflitos sociais, sua identidade constitui-se pela inscrição dos sujeitos na exterioridade social, é constituída pela relação de um com o outro. Com o discurso, o sujeito tem sua unidade no caminho de uma contradição a outra; encontra-se entre o ‘eu’ e o ‘outro’, no espaço discursivo. Os sujeitos são marcados por determinações sócio-históricas e são atravessadas por discursos de outrem, com os quais se unem, e dos quais se diferenciam e/ou distanciam (FERNANDES, 2012, p.41).

 

Consideramos que o ensino de História possibilita ao professor se engajar, juntamente com os alunos, na construção do saber e do pensamento crítico. Gauthier (1998) afirma que a ação do professor faz toda a diferença na aprendizagem, e que embora ensinar seja um ofício exercido em quase todas as partes do mundo, desde a Antiguidade, ainda se sabe muito pouco a respeito dos fenômenos que lhe são inerentes, e foi no escopo de aprimorar essa relação dicotômica ensino/aprendizagem, professor/aluno, que esse trabalho foi desenvolvido, e claro levar o aluno o conhecimento sobre quem são os sujeitos históricos importantes que conhecemos. 

 

Sobre as metodologias e práticas no ensino de História, Martins (2008) afirma que deve haver a preocupação em desenvolver a capacidade dos alunos em relacionar fatos, confrontar os pontos de vista e explorar a diversidade das fontes de pesquisa. Segundo Bittencourt (2009) é esta a “inovação que ocorre aos objetivos” enfatizando o “papel do ensino de História para a compreensão do ‘sentir-se sujeito histórico’ em sua contribuição para a formação de um cidadão crítico” (p. 19).

 

Com isso, ensinar História passa a ser, então, dar condições para que o aluno possa participar do processo do fazer, do construir a História. A História se torna a disciplina que busca agrupar as mais diversas singularidades nas ações do homem e com o resultado desse processo ela dá um sentido a esses fatos, demonstrando-os com as suas interligações com o resto dos eventos que fazem parte da vida humana.

 

Ao realizar esse processo o professor e o aluno poderão juntos levantar problemáticas atuais que se interligam a outros momentos históricos. Esse processo tornará a História para além de uma mera uma disciplina, auxiliará o aluno a descobrir o seu papel social. A intenção é que ele desenvolva a capacidade de observar, de extrair informações e de interpretar algumas características da realidade do seu entorno, de estabelecer algumas relações e confrontações entre informações atuais e históricas, de datar e localizar as suas ações e as de outras pessoas no tempo e no espaço e, em certa medida, poder relativizar questões específicas de sua época. (PCNs - Ensino de História, 1998, In: FONSECA, 2008, p. 89).

 

Diante dos avanços tecnológicos que permeiam o mundo globalizado, é sensato levar em consideração que a maioria dos alunos já nascem imersos ao mundo digital, e que também aprendem em ambientes externos à escola. Portanto, há um grande desafio por parte dos docentes, não só de inserir novas tecnologias em sala de aula, mas também de desenvolver práticas pedagógicas que promovam uma postura reflexiva sobre seu uso (SOUSA, 2009).

 

Nóvoa (1996, p. 17) diz que “[...] a inovação só tem sentido se passar por dentro de cada um, se for objeto de reflexão e de apropriação pessoal”. Daí a necessidade de buscar alternativas para utilizarmos as tecnologias como meio para fazer o sujeito pensar, educar-se e aprender com os outros nas múltiplas possibilidades de interação com o conhecimento.

 

Moran (2007, p.21) afirma que há um ganho para a educação com a inovação tecnológica em sala de aula para fins didáticos: aumento da concentração, engajamento, afetividade entre os pares, a socialização de estratégias de pensamento, fortalecimento da memória de longo prazo, entre outras possibilidades pedagógicas mais dinâmicas e criativa. “A educação precisa encantar, entusiasmar, seduzir, apontar possibilidades e realizar novos conhecimentos e práticas”.

 

As TICs são ferramentas que se forem bem planejadas são ferramentas que podem ser muito úteis nos processos de ensino e aprendizagem dos alunos, levando em consideração que o sujeito é um ser histórico, político e social que já possui uma bagagem de conhecimentos trazidos do seu convívio familiar. Para isso a escola desafia seus alunos a construírem seus conhecimentos e habilidades e que possam se integrar junto com a sociedade, com seus professores, seus colegas de sala e com sua própria família.

 

O professor que leciona História pode trazer jogos eletrônicos conhecidos dos alunos para explicar conteúdos curriculares. Por exemplo, no jogo Assassin's Creed os jogadores conseguem aprender sobre as sociedades secretas como os templários, as Cruzadas, Roma Antiga e o Império Bizantino. No game Call of Duty um fator que torna o jogo um dos mais indicados para quem deseja aprender História é a passagem por cenários históricos como a Praça Vermelha, o Palácio de Reichstag, Stalingrado e Berlim. E o jogo Europa Universalis traz temas históricos relevantes da Idade Média, como as expansões marítimas, conquistas e administração de impérios e o desenvolvimento da Igreja Católica.

 

Em relação ao uso de filmes temos uma variedade enorme de produções que abordam todos os períodos e acontecimentos históricos. Temos A Lista de Schindler, um clássico do cinema que aborda o Holocausto; Adeus Lênin que fala sobre a queda do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha; 300 que retrata a conhecida batalha de Termópilas, uma das várias travadas entre gregos e persas durante as chamadas Guerras Médicas; o filme 1492: A conquista do Paraíso conta as viagens de Cristóvão Colombo para a América no contexto da expansão marítima e comercial dos séculos XV e XVI; o filme a Guerra do Fogo retrata a vida do homem na pré-história, dando ênfase para a  descoberta do fogo; entre outras produções.

 

 O docente objetivando levar ao aluno uma pesquisa sobre determinado assunto em História pode-se utilizar sites específicos como o História Livre, Café História, Aventuras na História, Descomplica, Brasil Escola, Mundo Educação, Infoescola etc. Temos ainda as plataformas de compartilhamento de vídeos para serem utilizadas pela docência, como por exemplo a mais famosa delas, o Youtube.

 

A educação mediada pela tecnologia pode ser mais dinâmica e instigadora no ensino de História, os docentes têm um papel muito maior do que apenas ensinar o que está no planejamento, buscando vencer os conteúdos, mas sim, desenvolver a capacidade de pesquisa, se constituindo também como pesquisador.

 

A inserção da tecnologia na sala de aula pode ser comprovada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), por referências explícitas e implícitas sobre tecnologia, tais como:

 

- O domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna (art. 35);

 

- O incentivo ao trabalho de pesquisa e investigação científica, visando ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia (art. 43);

 

- A determinação de uma cultura profissional às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia (art. 39).

   

Segundo Valente (1999), a prática pedagógica é uma forma de conceber educação que envolve o aluno, o professor, os recursos disponíveis, inclusive, as tecnologias digitais, a escola e seu entorno e todas as interações que se estabelecem nesse ambiente de aprendizagem.

 

Os recursos de multimídia e computação gráfica, entre outros, constituem-se em ferramentas de apoio para a tarefa do professor de História, possibilitando novas formas de apreensão, uma vez que tais recursos despertam a atenção dos alunos, tornando-os mais interessados e contribuindo para a melhoria da aprendizagem, estabelecendo uma relação de interação com o conteúdo entre professores e alunos.

 

Referências biográficas

Raimundo Denizar dos Santos Pires, graduado em História pela Universidade Estadual do Ceará (UVA), especialista em Metodologia do Ensino de História pela Faculdade Padre Dourado, especialista em Metodologia do Ensino de Filosofia e Sociologia pela UniVitória.

 

Referências bibliográficas

BITTENCOURT, Circe (org). O Saber histórico na sala de aula. 11. Ed., 3ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 2009 – (Repensando o ensino). Pp. 11-27.

 

BLOCH, Marc Leopold Benjamim. Apologia da história, ou, O ofício de historiador. Rio de Janeiro, Zahar, 2001.

CORTELLA, M. S. Educação, escola e docência: novos tempos, novas atitudes. São Paulo: Cortez, 2014.

 

FERNANDES, Cleudemar. Alves. Discurso e sujeito em Michel Foucault. São Paulo: Intermeios, 2012.

 

FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de História: experiências, reflexões e aprendizados. 8. ed. Campinas: Papirus, 2009.

KENSKI. Educação e tecnologias. 2º ed. Campinas, SP: Papirus, 2007.

 

NÓVOA, António. Relação Escola-Sociedade: novas respostas para um velho problema. In: SERBINO, Raquel et al. Formação de Professores. São Paulo: UNESP, 1996. P. 17-36.

 

SOUZA, Carlos Henrique M. de. Tecnologias e novos modos de comunicação: (re) invenção do conhecimento. Revista Electrónica Internacional de Economía Política de las Tecnologías de la Información y la Comunicación, v. 11, n. 1, p. 1-13, 2009.

 

STEENSMA, H. K. Acquiring technological competencies through inter-organizational collaboration: na organizational learning perspective. Journal of Engineering and Technology Management, v. 12, p. 267-86, 1996.

 

VALENTE, J. A. (Org.) O computador na sociedade do conhecimento. Campinas: Unicamp-nied, 1999.

4 comentários:

  1. Olá Raimundo.
    Parabéns pelo seu texto. Mais que necessário tratar das tecnologias digitais na educação básica, em especial na disciplina de História.
    Considerando que o planejamento pedagógico deve, preferencialmente, ser discutido de forma conjunta quando possível nas escolas, e o uso de recursos multimídia e de computação gráfica, como você mesmo cita em seu texto contribuem na aprendizagem, de que forma podemos operacionalizar o diálogo entre professores para que o uso de uma destas ferramentas possa abarcar várias disciplinas e corroborar na construção de um conhecimento menos fragmentado?
    Obrigado.
    Junior Benedito Pleis

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    1. Junior Benedito obrigado por suas considerações. Acredito que é importante que haja a interdisciplinaridade e um dialogo entre os pares, buscando assim um conhecimento abrangente e mais integrado dos conteúdos. Referindo-me também a uma concepção de ensino e currículo, a uma didática contemporânea que seja capaz de responder às demandas da Sociedade da Informação.
      Raimundo Denizar dos Santos Pires

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