Felipe Lucas Fagundes

 

STAR WARS E A FILOSOFIA

  

Introdução

A grande maioria das ficções, trazem suas próprias mitologias e filosofias, porém é nítida a inspiração em nossa realidade e nossas sociedades. Isso é representado, principalmente, na saga Star Wars, desde os filmes, como também do universo expandido, canônico que o compreende.

 

Na saga apresentada por George Lucas em 1974, intitulada de Star Wars, teve como seu grande lançamento, a história de um jovem envolto em filosofias e crenças antigas, estamos falando de “Uma Nova Esperança" o quarto filme, em ordem cronológica. É possível analisar e compreender, diversos aspectos, sociais, políticos e tendo uma relevância maior para com este trabalho filosófico.

 

Porém para conseguirmos compreender toda essa complexidade, faz-se necessário, que conheçamos alguns conceitos filosóficos, como o da própria filosofia. Que em um padrão sintético, e fora de análise alguma, traz-nos o clássico e linear, associados, apenas à razão e ao conhecimento humano, “Razão da existência humana; conjunto das reflexões particulares que buscam entender a realidade, a partir da razão.”.

 

Sendo assim, o nosso trabalho, desenvolverá diversas vertentes filosóficas. Que por sua vez, estarão sendo utilizadas, na análise e construção de um texto, que trata a ficção, o universo criado por George, como um banquete, de relações pessoais, e gerais, com a razão e as idéias construindo heróis e vilões icônicos e filosoficamente ativos.

 

Ao assistir os filmes e ler o universo expandido, da saga Star Wars, percebemos que existem inúmeras questões filosóficas, acerca de aspectos presentes nas obras. Sendo eles, desde uma organização política complexa, uma filosofia de mestre e aprendiz, e o caminho de um herói à vilão.

 

Como uma das maiores obras de ficção científica, o Star Wars, em toda a sua amplitude, consegue abordar temas filosóficos e incorporá-los, com tanta complexidade de um jeito tão natural? E é possível aprender com isso?

 

Sendo assim nesse texto, será trabalhado, algumas das principais filosofias que lidamos em nosso cotidiano, como também como as mesmas foram empregadas na saga. Trabalharemos, com alguns pontos principais, para concluir o nosso objetivo, dentre eles temos a necessidade de historicizar os fatos e momentos que alicerçam na jornada do herói, de Joseph Campbell; analisar as representações de diferentes filósofos e filosofias apresentadas nas obras; Entender o que é e como funciona a filosofia jedi e sua antagônica, dos Sith, refletida em pensamentos e ideias expressas na filosofia.

 

Star Wars

A franquia, de George Lucas, juntamente com seu universo expandido, teve sua criação no ano de 1977, com o filme Uma Nova Esperança. Partindo desse filme surgiram inúmeras expansões e enriquecimentos ao universo, desde quadrinhos, livros, séries animadas, partindo da mão de diversos autores.

 

Porém no ano de 2012, a grande e imponente Disney, compra a produtora Lucas Filmes, consequentemente tomando posse de Star Wars. Trazendo então o primeiro filme de uma nova trilogia já em 2015 (G1, 2012).

 

Na época da compra da franquia a nova dona anuncia o selo legends, que se trata de transformar todo o universo expandido, pré existente em lendas, podendo ou não terem acontecido (ILUMINERDS, 2015). Na construção do texto a seguir, será utilizado, única e exclusivamente os materiais canônicos da saga.

 

A seguir o texto entrará em momento analítico, onde estudaremos alguns momentos e fatos da saga, usando diferentes filosofias e filósofos. Traremos apenas três correntes filosóficas, sendo elas o Positivismo, o Epicurismo e o Estoicismo.

 

Star Wars e o Positivismo

Para que possamos desenvolver um conhecimento básico sobre o positivismo, é relevante que tenhamos uma noção mínima da sua formulação e aquilo que o cerca.

 

Conte, tentando criar uma vertente, que por sua vez, conseguisse abranger diversas áreas do conhecimento humano, e assim possibilitando uma variedade maior de ferramentas. Assim consequentemente o filósofo, busca, deixar obsoletas as principais antigas vertentes da época, sendo a metafísica e a teologia.

 

“(...) tentar criar um sistema que pudesse englobar todas as áreas da atividade humana. Considerado como o pai do Positivismo, Comte procurou terminar com as fases anteriores de conhecimento humano consideradas ultrapassadas, a Teológica e a Metafísica, (...).”(FERNANDES, p.12, 2011).

 

Para conseguirmos entender o positivismo, é necessário que estudemos a “Lei dos Três Estados”. Ela traz-nos uma divisão entre três grandes momentos filosóficos da humanidade, sendo dois já transcorridos e o terceiro a decorrer-se.

 

“A Lei dos Três Estados é indissociável do Positivismo e constitui mesmo a trave-mestra do sistema comteano. A Lei dos Três Estados identifica três momentos da Humanidade, dos quais dois deles já terão sido percorridos pelo Homem enquanto espécie, faltando completar o terceiro passo: Metafísica, Teologia e Positivismo “(FERNANDES, p.11, 2011).

 

Sendo a Teologia, aquele estudo que reconhece tudo aquilo que não é compreendido, como uma ação exclusivamente de seres cuja sua natureza, é fora da compreensão humana, “A Teologia ou estado teológico é o momento em que o Homem olha para a Natureza como se fosse criada miticamente e procura a explicação dos fenómenos naturais através de seres sobrenaturais.”(FERNANDES, p.12, 2011).

 

Já a metafísica acredita que a construção do mundo natural, está diretamente ligada a energias e cargas, onde existe sempre uma correspondente, “Consiste essencialmente em atribuir a corpos exteriores une vida essencialmente análoga à nossa, porém quase sempre mais enérgica, a partir de uma acção normalmente mais  poderosa.” (COUNTE, 1909 apude FERNANDES, p.12, 2011).

 

Por sua vez, o positivismo é uma teoria criada por Augusto Comte, divide-se na questão dos conceitos e preceitos filosóficos, tirados de grandes pensadores como Aristóteles. Como também no quesito dos termos e definições, trata-se de definir o real e o surreal, ou seja o certo e o errado.

 

“Augusto Comte usa o termo filosofia na acepção geral que lhe davam os antigos filósofos, particularmente Aristóteles, como definição do sistema geral do conhecimento humano; e o termo positiva designa, segundo ele o real frente ao quimérico, o útil frente ao inútil, o certo frente ao incerto, o preciso frente ao vago, o relativo frente ao absoluto, o orgânico frente ao inorgânico, e o simpático frente à intolerância.” (RIBEIRO, 1982, p.10).

 

Como visto nas ideias de Ribeiro (1982) Comte trabalha em cima de um método, conhecido como Histórico genérico indutivo, que se trata linearmente de uma sucessão de fatos cuja, parte deles pode ser adivinhada e ou interpretada do seu momento histórico ou lógico.

 

Tal metodologia é proveniente de inúmeras outras específicas. “Este método é o método geral de raciocínio proveniente do concurso de todos os métodos particulares (dedução, indução, observação, experiência, nomenclatura, comparação, analogia, filiação histórica) que constitui, segundo Comte, o método objetivo.” (RIBEIRO, 1982, p.10).

 

Sendo assim, tal corrente científica filosófica, compreende em suas formulações e pesquisas, um método de observação. Esse método é definido em 3 grandes pontos, a hipótese, ou seja, o questionamento, a tese, a formulação de algo que embase o terceiro ponto, que seria o resultado, “O Positivismo é uma teoria que afirma que o único conhecimento autêntico surge através da experiência, não só dos sentidos mas também da sua verificação através do trinómio Hipótese – Teste – Resultado.” (FERNANDES, p.11, 2011).

 

É interessante compreendermos um pouco sobre o organismo social. Apesar de não ser uma ideia propriamente deferida pelo filósofo, está extremamente alinhado ao seu pensamento. 

 

“Para além disso, acaba por ser um conceito que se encaixa no modelo de Auguste Comte porque é o seu próprio prolongamento. A ideia de associar o organismo, enquanto conjunto de características à sociedade, preenche perfeitamente a teoria da evolução das civilizações concebida pelo filósofo francês.“ (FERNANDES, p.18, 2011).

 

Está vertente, detém que a humanidade evolui em suas filosofias de organização social, “O organicismo encara assim a organização dos organismos naturais como o ponto fundamental da sua evolução.” (FERNANDES, p.18, 2011).

 

Este conceito e compreensão prévia, obtida a respeito das organizações sociais e sua visão, observada por outros filósofos, com embasamento nas obras de Comte, será de grande ajuda, ao decorrer do nosso trabalho. Pois assim poderemos compreender a construção da sociedade, e a relação da mesma entre si, expressa na franquia.

 

Baseado nas ideias de Comte, a respeito do certo e errado, da definição de lados opostos, existem também os heróis e vilões. Sendo assim, em diversos momentos tanto da política quanto das vertentes ficcionais e intelectuais, usam essa imagem do herói, para traçar seres, que por sua vez, alicercem um certo e errado dentro da construção de suas sociedades.

 

“(...) as figuras dos heróis se constituem em elementos explicitamente disputados pelos mais variados setores políticos e/ou intelectuais, que, através da apropriação sobre suas imagens, buscam torná-lo símbolo de seu próprio grupo social.” (FUÃO, p.14, 2009)

 

Nesse formato compreendemos então que a filosofia positivista, traz-nos um lado insuperável e outro indesejável, ou seja um herói e um vilão. Isso é visto amplamente na saga Star Wars.

 

Star Wars e o Estoicismo e o Epicurismo

Como já havíamos falado antes, o trabalho será desenvolvido em cima dos filmes, 1, 2 e 3, sendo eles, A Ameaça Fantasma (1999), Guerra dos Clones (2002) e A Vingança dos Sith (2005), respectivamente.

 

Porém para termos uma maior compreensão, é necessário que conheçamos as duas grandes forças antagônicas, que percorrem toda a série. Elas estão aliadas ao lado negro, aquele que, em cima das bases positivistas, que vimos anteriormente, são os vilões, e os lado da luz, representando os mocinhas, sendo eles os SITH e os JEDIS,  respectivamente.

 

Sendo os Jedis, existe o livro de Daniel Wallace (2010), intitulado de “ Star Wars O Caminho Jedi”, que objetiva ser um manuscrito ficcional, que descreve o passado, a cultura e as crenças, de tal grupo. Dentro dele é possível observar o código que os rege.  Sendo ele:

 

Não há emoção, há paz; Não há ignorância, há conhecimento; Não há paixão, há serenidade; Não há caos, há harmonia; Não há morte, há a Força. (WALLACE, p.7, 2010).

 

Partindo desse fragmento da história, podemos compreender um fragmento da filosofia que os rege. Trazendo então para a nossa realidade, vemos que, os jedis, lutam contra tudo aquilo que os faria perder o controle. 

 

Tal treinamento seria referente ao estoicismo, dentro das filosofias do nosso universo. “A força estóica da mente é essencial para o treinamento jedi- impedi-los de deslizar para os sentimentos incontroláveis como ódio e angústia.” (HUMMEL, p.33, 2015).

 

Saindo do ponto em que o estoicismo trata da necessidade de observar o mundo com a razão, não mais com as emoções. Porém tal razão está diretamente ligado a religião e a religiosidade, que no código em que está a disposição para a nossa análise acima, é representada pela variável “Força”, “(...) a Moral para os estoicos ressaltava que o Homem, para ser virtuoso, teria que respeitar as leis divinas – usando a razão. Sustentavam que, acima do direito, vigente nos diferentes Estados, haveria uma lei superior: a lei da reta razão.” (CUNHA, p.96, 2020).

 

Em contraponto, existe o código dos Siths. Que juntamente com suas idéias, filosofias e história estão descritos no livro “Star Wars Livro dos Sith”, também escrito por Daniel Wallace (2012):

 

“Paz é uma mentira, só existe paixão; Através da paixão, ganho força; Através da força, ganho poder; Através do poder, ganho a vitória; Através da vitória, minhas correntes se rompem; A Força me libertará. (WALLACE, p.47, 2012)”

 

Sendo a teoria mais adequada, para refletir, tal construção à realidade que nos cerca, o Epicurismo. Pois essa filosofia, nos traz, que as emoções, como vistas no fragmento acima, juntamente com a religião, também representada pela “Força”, trará a liberdade ou seja o objetivo, a felicidade, a plenitude.           

 

“Este pensador defendia a ideia de que o bem residia na procura de prazeres moderados (para que o Homem pudesse atingir um estado de relativa tranquilidade – a ataraxia bem como a alienação do medo (da morte ou dos deuses) – aponia. Ora, combinando-se esses dois fatores teríamos a felicidade em seu grau mais elevado.” (CUNHA, p.95, 2020).

 

Sendo então os governos e a dualidade de pensamentos, a definição de heróis e vilões, empregadas e embasadas na filosofia de  Comte, o Positivismo e suas sub vertentes posteriores. E aquilo que alicerça os pensamentos de nossos heróis calçados no estoicismo e os seus antagônicos no epicurismo.

 

Contudo concluímos esse segundo momento, com as filosofias e códigos antagônicos, que podemos aprender filosofia com a ficção científica. vimos então que a complexidade filosófica é tão grande, que em apenas três fatos e momentos simples da saga, é nítido o apoio da ciência do pensamento em cima do grandioso universo de “Star Wars”.

 

Referências biográficas

Felipe Lucas Fagundes, graduado em história pelo Centro Universitário da Região da Campanha, especialista em História do Brasil pelo Instituto Pedagógico de Minas Gerais e graduando em filosofia pelo Centro Universitário Internacional. Escritor de dois livros, sendo o primeiro “Cemitério: Onde a história repousa” e o segundo “Gaúcho: Seu surgimento e suas relações culturais”.

 

Referências bibliográficas

CUNHA, Alexandre Sanches. Manual de filosofia do Direito. jusPODIVM. 2020.

 

DECKER. Kevin S.; EBERL, Jason T.. Star Wars e a filosofia. São Paulo/ SP: Universo Geek. 2015.

 

FERNANDES, Davi Rafael Vaz. A influência do positivismo no pensamento republicano português. Porto/ Portugal: Universidade do Porto. 2011.

 

FUÃO, Juarez José Rodrigues. A construção da memória: os monumentos a Bento Gonçalves e José Artigas. São Leopoldo/ RS: UNISINOS. 2009.

 

RIBEIRO, João. O que é Positivismo. Taubaté/ São Paulo: Brasiliense. v.1 1982.

 

STAR WARS: A AMEAÇA FANTASMA. Direção: George Lucas. Produção: Rick McCallum. Estados Unidos: Lucas Filmes, 1999.

 

STAR WARS: ATAQUE DOS CLONES. Direção: George Lucas. Produção: Rick McCallum. Estados Unidos: Lucas Filmes, 2002.

 

STAR WARS: A VINGANÇA DOS SITH. Direção: George Lucas. Produção: Rick McCallum. Estados Unidos: Lucas Filmes, 2005.

 

WALLACE, Daniel. Star Wars O Livro dos Sith. São Paulo: Bertrand Brasil. 2012.

 

WALLACE, Daniel. Star Wars O Caminho do Jedi. São Paulo: Bertrand Brasil. 2010.

2 comentários:

  1. Prezado Felipe. É louvável a iniciativa de discutir alguns conceitos da filosofia aplicados a saga Star Wars. A forma como, geralmente, são tratados filmes de ficção científica e, mais ainda, aqueles que trazem forte carga de aventura, aponta para uma crítica que vê nessas produções objetos da indústria cultural que pouco ou quase nada ajudam na reflexão. Como estou convencido de que isso não é verdade, gostaria de saber o que você pensa sobre a discussão feita sobre democracia nesses filmes, visto que a luta do Império é um exemplo de supressão das liberdades que a república pretende preservar.
    Paulo Roberto de Azevedo Maia

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  2. Olá, grato pelo comentário. Respondendo a tua pergunta, vejo como uma representação muito atrelada com a realidade e alinhada com o positivismo. Onde tínhamos representações heroicas e pessoas consideradas portadores da luz, como em toda a democracia, cujas quais tinham um papel alinhado e polarizando grande parte das decisões políticas, servindo estes como exemplos e detentores da verdade. E partindo da crença da teoria da história cíclica, tudo chega ao ponto de retornar ao anterior, ou seja, com o grande poder obtido por um representante, surge um golpe de estado e a volta de um império galáctico, a queda dos representantes da luz e o surgimento de uma nova era de escuridão e opressão. Espero ter respondido a tua pergunta, se não foi o caso, fique à vontade para fazer uma nova. Agradeço novamente a sua atenção.

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