Janaina Cardoso de Mello

 

MUSEUS DA ENERGIA EM SÃO PAULO: COMUNICAÇÃO, ENSINO DE HISTÓRIA E TECNOLOGIA DIGITAL

 

Com o incremento do uso da internet, das mídias sociais e dos dispositivos móveis, em tempos de reclusão na pandemia da covid19, indaga-se: quais as mediações museológicas com usuários e o papel da digitalização de museus em São Paulo? Procurou-se avaliar se os acervos em Itu, Salesópolis e São Paulo, foram reelaborados em uma narrativa digital que sirva ao ensino de História e à promoção cultural.

 

A metodologia qualitativa envolveu: 1. Revisão bibliográfica; 2. Caracterização dos museus na pandemia; 3. Análise das expografias online, da interação dos usuários e das representações sociais do mundo físico e ciberespaço para identificar soluções digitais mediadoras no século 21.

 

A pandemia de covid19 levou muitas instituições culturais aos caminhos digitais com tours 360°, walkthroughs, gameficação, realidade aumentada e outras tecnologias de comunicação e recursos pedagógicos para inserção dos museus na Revolução 4.0, das tecnologias disruptivas, acessíveis por smartphones e notebooks. Entender essa viabilidade nas instituições brasileiras é uma mais valia para a educação não-formal no mundo atual.

 

Nos últimos anos houve os profissionais de museus buscaram a revisão da definição de museu, em uma abordagem mais democrática e convergente com as mudanças socioculturais, políticas e tecnológicas contemporâneas. Realizaram fóruns online pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM), formulários eletrônicos e debates. O conceito da 22ª Assembleia Geral do ICOM, em Vienna, na Áustria, em 24 de agosto de 2007, caracterizava o “museu” como:

 

“[...] uma instituição sem fins lucrativos, permanente, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, pesquisa, comunica e expõe o património tangível e imaterial da humanidade e do seu meio ambiente para fins educativos, estudo e diversão” (ICOM, 2021).

 

A comunicação em museus e uso de dispositivos e contextos explicativos é identificada por Poulot (2013, p. 26-27) no repertório dos museus europeus e norte-americanos, no período entre guerras mundiais. Museus de Ciência e de História Nacional elaboraram expografias participativas para que os visitantes imergissem nos museus. Assim foi nos museus de Chicago, Columbia britânica e Paris. Ocorreram exposições presenciais em vagões aposentados, reconstituição de túneis, experimentos científicos de Física e Química ou dramatizações históricas.

 

A informação e comunicação em museus atuam para que o conhecimento científico seja compreensível ao público leigo, atualizando saberes e contrastando o senso comum com estudos e pesquisas realizados em distintas instituições. Portanto, a

 

“comunicação pública da ciência faz com que ocorra a divulgação de informações de interesse público, levando o público leigo a exercer seu direito de receber essas informações e possibilitando sua participação no debate em esfera pública” (LÊDO, 2019, p. 18-19).

 

Segundo Ferreira (2014) as exposições podem transmitir informação (histórica, artística, social, arqueológica, biológica, tecnológica) unívoca, com uma apreensão passiva de conhecimentos ou podem expor distintos olhares, visitas com várias interpretações e objetos mediadores que convidam à participação ativa dos visitantes na construção de conteúdo. Os objetos mediadores adicionam à exposição narrativas mais interessantes.

 

Para Chiovatto (2020) a nova conceituação de museu, elaborada entre 2020 e 2022, não deve ser pautada por uma narrativa rígida, com uma estrutura histórica ou estética de especialistas, pois uma maior participação de interessados em museus aprecia as interpretações nos repertórios dos diversos públicos, fazendo com que os objetos museológicos ganhem vida e tenham reconhecido um outro valor. Não se trata apenas de conservar a memória no museu, mas fazer a instituição contar o passado com olhos do presente, pois, quando apresentamos um objeto, falamos mais de nós, do ser humano contemporâneo, do que do objeto em si.

 

Em 1990, “ser digital” não era uma opção e sim uma realidade das instituições culturais europeias com a “[...] disseminação de ferramentas e práticas digitais e pela conversão de todo o tipo de recursos culturais em bits e bytes”. A Comissão Europeia no Bulletin of European Union, de 1994, já considerava o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no desenvolvimento econômico de empregos, renda e qualidade de vida dos cidadãos ao reconhecer o patrimônio cultural como vital em uma sociedade democrática. Os museus europeus utilizaram exposições interativas digitais, a partir de 2000, adotando programas de digitalização em larga escala e recursos substanciais na criação e aquisição de equipamentos digitais visando um acesso mais amplo e interessante ao público (MESSIAS, 2018, p. 17).

 

Nesse “não tão novo universo da virtualidade”, Dodds (2019) retratou a experiência do Victoria and Albert Museum (V&A), no Reino Unido, cuja aquisição das primeiras imagens geradas por computador data de 1969. O museu V&A detêm uma coleção de arte computacional com 2.000 gravuras, desenhos, fotografias e obras nativas digitais de 1960 a atualidade. Sob sua guarda está uma ampla variedade de obras de arte físicas e digitais criadas com código. Parry (2019), discorreu sobre a necessidade de pensar o acesso digital nas plataformas dos museus como protagonismo do sujeito, para o “usuário atuante”, ou seja, o “usuário digital” que além de ser parte do sistema de tecnologia, passa a integrar o sistema externo, alterando sua capacidade principal de automação para personalização e capacitação.

 

A pandemia da Covid19, as transformações digitais em curso desde o final do século XX e o isolamento social intensificou a necessidade de efetivar a continuidade do acesso e ensino não-formal, ainda que virtual, aos museus quando suas portas fecharam devido a insegurança sanitária.

 

O Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), ao longo de 2020, disponibilizou várias orientações e publicações em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), priorizando cinco temas de interesse: a situação de museus e seus funcionários, o impacto econômico previsto, a tecnologia digital e comunicação, a segurança de museus e a preservação de coleções e freelancers de museus (ICOM, 2020, p. 1).

 

As “Recomendações do ICOM Brasil em relação à Covid 19”, no item 17° orientaram

 

“[...] que [a] instituição elabore ou mantenha rotinas de interação com o público através de redes sociais (Instagram, Twitter, Facebook etc.), seguindo um planejamento de divulgação de seus acervos e estimulando a consulta e pesquisa em bases de dados ou sites. Nesse período, produza material para publicação digital (cartilhas de orientações técnicas; catálogo digital de exposições realizadas etc.) com informações claras e diretas, acessíveis ao público” (ICOM, 2020, p. 5-8).

 

A publicação “Museums around the world in the face of COVID-19” (UNESCO), em maio de 2020, trouxe um relatório da implementação das medidas de proteção e atualização das instituições. Contabilizaram 95.000 museus no mundo (60% à mais do que em 2012), verificando-se que 90% das instituições fecharam e 10% destas não iriam mais reabrir. Houve dificuldades digitais nos continentes e países mais pobres, à exemplo da África, onde somente 5% dos museus conseguiram dispor conteúdo digital para acesso (UNESCO, 2020, p. 4).

 

Na América Latina e no Brasil, a digitalização dos acervos museais tem sido muito desigual dado seu custo elevado. Desde 2014, a Fundação Getúlio Vargas realizou workshops para avaliar o processo, identificando problemas como a transformações de sites estáticos em portais digitais interativos e imersivos, grande número de dados a ser disponibilizado, integração de bancos de dados institucionais, peculiaridades dos acervos audiovisuais, hardwares e softwares adequados ao manuseio de profissionais dos museus, prevendo sua contínua atualização e expansão de memória, financiamento e problemática dos direitos autorais dentre outras complexidades (FREITAS; VALENTE, 2017, p. 9-10). 

 

Museus na internet

O início da Word Wide Web (www) na década de 1990 não era propício à interatividade ou imersão digital. Embora tenha sido um avanço, as páginas eram estáticas e seu acesso feito via computadores fixos com internet discada. Somente nos anos 2000, com a evolução da banda larga, a criação de novas modalidades de plataformas (blogs e videologs), chats (MSN, Gtalk, Skype), redes sociais (Orkut, Twitter, Instagram, Facebook) e mais tarde os tablets e smartphones cujo acesso online requeria aplicações e novos designs para telas touchscreen. Saia-se da web 1.0 para a web 2.0 (MATOS; DEL VECHIO, 2020, p. 57-58).

 

Essas mudanças tecnológicas possibilitaram às instituições culturais, de acordo com seu orçamento, investir em novas configurações de informação e comunicação de seus acervos e atividades educativas online. Assim, classificaram três tipologias museais no universo digital:

 

“a) o “museu folheto” ou “museu brochura”, em um site com informações da instituição, história, características dos acervos, horário e localização. De menor custo, foi adotada pela maioria dos museus para dar visibilidade à instituição e atrair visitantes para o espaço físico. Não há uma conexão entre o usuário e a narrativa expositiva do museu;

 

b) o “museu no mundo virtual”, mais elaborado, disponível para sites de navegação em computadores e apps para dispositivos móveis. As informações do acervo são detalhadas, possibilitando acessar objetos do acervo fora das exposições, na catalogação digital da reserva técnica. Há um histórico das exposições realizadas. O site é uma extensão do museu físico. A interação com as peças permite ao usuário manipulá-las em rotação 360°, aceder à boxes com textos, vídeos, reconstituições 3D etc. Não há uma integração das ações e discurso expositivo, pois as peças são apresentadas isoladamente da coleção e da narrativa expográfica; e

 

c) o “museu verdadeiramente interativo”, o site permite a imersão online do usuário. Através de walkthroughs se percorre o circuito do museu físico ou vivencia um itinerário digital. Essa tipologia de museu na internet pode não ter um aporte físico, sendo apenas virtual. A interatividade pode remontar ao processo participativo de comunicação cultural, onde o usuário intervém na exposição online, apropriando-se dos objetos digitais (realidade aumentada), modificando o discurso expositivo, reinventando objetos, configurando o próprio acervo. Lugar de aprendizagem, essa modalidade museal oferta ao usuário ser um curador em uma vivência construtivista, local e global, dinâmica, multidisciplinar, em transformação. A rememoração individual e coletiva se imiscui na memória digital, tornando o museu “um espaço de grandes novidades na prática”, diferente, colaborativo e com pertencimento subjetivo, já que a comunicação do conhecimento é dialógica (Maria Piacente,1996 apud TRINDADE; RIBEIRO; MOREIRA, 2019, p. 198-201).

 

A Fundação de Energia e Saneamento de São Paulo: Museus de Itu, Salesópolis e São Paulo

Em 1998, início das privatizações nas empresas de energia nacionais, o governo estadual paulista optou por criar um órgão para preservar a memória e o patrimônio do gás e da eletricidade no estado, resultando na Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São Paulo. Em 2004 o nome foi alterado na perspectiva do “Saneamento”. Em sua missão institucional define-se como uma:

 

“Organização sem fins lucrativos, a Fundação atua em todo o Brasil, desenvolvendo projetos culturais e educativos que contribuem para a democratização do acesso ao patrimônio cultural, visando o fortalecimento da cidadania e o uso responsável dos recursos naturais” (FUNDAÇÃO ENERGIA E SANEAMENTO, 2021).

 

O acervo cultural da fundação possui mais de 1.600 metros lineares de documentos técnicos e gerenciais, 260 mil fotografias, 3.500 objetos museológicos, 50 mil títulos na biblioteca, além de documentos cartográficos, audiovisuais e sonoros, desde o século XIX (FUNDAÇÃO ENERGIA E SANEAMENTO, 2021).

 

As três unidades museológicas da Fundação são descritas como espaços onde o passado, o presente e o futuro da energia no Brasil e no mundo recebem uma abordagem didática e divertida. A reunião dos três museus compõe o Museu da Energia (FUNDAÇÃO ENERGIA E SANEAMENTO, 2021).

 

Em um sobrado de 1847, o Museu da Energia de Itu está no centro histórico. As salas da narrativa expositiva, que remontam há 100 anos atrás, apresentam as mudanças no cotidiano das pessoas da energia das lamparinas que queimavam óleo até os eletrodomésticos no século XX (FUNDAÇÃO ENERGIA E SANEAMENTO, 2021).

 

O Museu da Energia de Salesópolis, em um parque da Mata Atlântica, é vizinho da usina hidrelétrica inaugurada em 1913. O espaço oferece atividades educativas e culturais, com visitas orientadas e trilhas, expondo conhecimentos sobre energia e meio ambiente. A Usina de Salesópolis é operada pela Cobbucio e Almeida Energia (FUNDAÇÃO ENERGIA E SANEAMENTO, 2021).

 

Inaugurado em junho de 2005, o Museu da Energia de São Paulo é um espaço para a comunidade. Equipamentos interativos e atividades com jogos e filmes abrangem várias idades em experiências científicas, com reflexão sobre a energia e o futuro. A história da expansão urbana e industrial da cidade de São Paulo nos últimos 150 anos está representada. O edifício-sede do museu foi construído entre 1890 e 1894, quando o bairro dos Campos Elíseos era mais sofisticado e o palacete abrigou Henrique Santos Dumont, irmão do aviador Alberto Santos Dumont e um dos homens mais ricos do Brasil no período (FUNDAÇÃO ENERGIA E SANEAMENTO, 2021).

 

O site da Fundação e Museus de Energia de São Paulo

Os dados do portal digital da Fundação de Energia e Saneamento de São Paulo com os três museus da Energia no estado de São Paulo, enquanto sistemas de informação, e os projetos de comunicação e mediação, permitem observar conteúdos e funcionalidades para a classificação de museus no universo digital (TRINDADE et al., 2019, p. 198-201).

 

O site da Fundação e Museus de Energia se enquadra como “museu folheto” ou “museu brochura”, com informações resumidas da Fundação e unidades museológicas, história, organização, funcionamento, horário, localização, fotografias dos prédios e objetos do acervo, roteiros de visita diferenciados (público escolar e em geral), programação, exposições anteriores, ações educativas em casa (receitas, atividades de imprimir e colorir, vídeo em libras (18’53) no YouTube) e jogos online.

 

A tecnologia da elaboração do site da Fundação e Museus da Energia usou a extensão “ASPX”, uma estrutura de bibliotecas básicas para processar linguagens de script ao lado do servidor de conteúdo dinâmico na Web. O ASPX (ASP.NET) é da Microsoft. A sigla ASP, significa Active Server Pages. Uma página ASP.NET é similar a página HTML, pode conter HTML, XML e scripts. Os scripts são executados no Servidor. Os controles contêm um “<form>”. A “<form>” com uma tag “runat=server” (MICROSOFT ASP.NET, 2021).

 

Antes da pandemia da Covid19, apesar da indisponibilidade online dos acervos, rumava-se para uma “presença digital” nas instituições conforme cada realidade. O planejamento indagava “por que”, “o que” digitalizar e as estratégias para “o interesse” nos acervos. Com esses pressupostos efetuar políticas de preservação cultural, documentadas, com boas práticas dos profissionais em museus, redes de colaboração interinstitucionais e transnacionais para compartilhamento de recursos (FREITAS; VALENTE, 2017, p. 16-17).

 

Os resultados da pesquisa do ICOM (Fig.1), em 2020, no uso da “tecnologia digital e comunicação”, após o fechamento dos museus, informam que a digitalização não alcançou a maioria das instituições. Houve a indisponibilidade de acervos ao público e a falta de quantidade e qualificação tecnológica dos profissionais de museus frente aos desafios da contemporaneidade.

Fonte: ICOM, 2020, p. 9.

 

Nos museus onde foi possível a digitalização, exposições, conferências e atividades de divulgação, planejadas no “modo presencial”, migraram para a internet. Também realizam atividades nas redes sociais (Facebook, Twitter, Instagram) e associações profissionais de museus organizaram webinars. Várias atividades museais especiais buscaram amenizar os desafios do confinamento: jogos, atividades para colorir, questionários e outras (UNESCO, 2020, p. 5-6).

 

No site dos Museus de Energia de São Paulo a gameficação educativa é fruto da união da Rede Museu da Energia e da plataforma educacional Kademi (Atheva) na campanha “Água: Energia do Planeta Terra”, com 13 jogos e atividades para a sala de aula. Essa interface é classificada como um “museu folheto” ao “museu no mundo virtual”. Não há outra interação digital participativa.

 

A abertura virtual esbarra nos limites do acesso aos meios digitais por milhões de pessoas, principalmente em países emergentes, dificultando os museus virtuais e as coleções online. A ausência de equipamentos tecnológicos e/ou conexões nas casas inviabiliza a cultura digital. A União Internacional de Telecomunicações informou que quase metade da população mundial não possui Internet. Há uma lacuna de gênero nas tecnologias digitais. A OCDE mostra que cerca de 327 milhões a menos de mulheres têm um smartphone e acessam a Internet (UNESCO, 2020, p. 6).

 

No Estado de São Paulo, em 2019, 77% da população entre 10 anos ou mais usava a internet, correspondendo a cerca de 30,5 milhões de pessoas. Nos espaços de baixa vulnerabilidade, o número de usuários alcançou 78%, quase 20 milhões, enquanto naqueles de alta vulnerabilidade diminui para 75%, equivalendo a pouco mais de 10 milhões. Por outro lado, quase 20% dos paulistas (cerca de 7,5 milhões) declararam nunca ter acessado a internet (SAEDE-SP/TIC, 2020, p. 1).

 

A “Pesquisa SISEM-SP: Museus e Conectividade 2020” revelou que 75% dos museus são de gestão pública e apenas 25% de gestão privada. Destes 92,7% utilizavam computadores (24,5% possuíam 1 máquina, enquanto mais de 70% com 4 ou 5 máquinas). O acesso à internet foi reportado por 93,3% dos museus e pouco mais da metade, 51,2%, disponibilizava Wifi aos visitantes. Sobre Websites, 35% dos museus não possuíam. O uso das redes sociais se concentrava em perfis no Facebook, Instagram e YouTube, com postagens de 1 a 3 vezes na semana (MIZUKAMI; ARGENTO, 2020, p. 8-11).

 

A pesquisa da digitalização mostrou que menos da metade das informações (53%) dos acervos está online, estando 54% das coleções digitalizadas, mas apenas 35% em acesso remoto (MIZUKAMI; ARGENTO, 2020, p.13).

 

Os Museus da Energia de São Paulo não possuem imersão digital (RA, RV, Walkthroughs ou rotação 360°), integrando o percentual de 46% de coleções não digitalizadas e 30% fora da internet, diferentemente de espaços como o Centro Cultural Banco do Brasil, o Museu da Pessoa ou o Itaú Cultural. O único viés interativo digital são os games educativos, mas sem a narrativa expográfica.

 

Considerações Finais

O investimento na mediação museológica participativa de usuários dos Museus de Energia ocorre no espaço físico em Itu, Salesópolis e São Paulo. Por outro lado, a tecnologia estática do site das unidades museais não viabiliza o acesso do público ao acervo e narrativa das exposições tangíveis.

 

O único modo de vivenciar o conteúdo museológico é fora da transformação digital do século XXI. O planejamento institucional não reelaborou os acervos físicos em representações sociais digitais, mantendo-se distante do público tanto no ensino quanto na promoção cultural.

 

Com o acesso superior a 70% da população de São Paulo à internet, a mediação dos Museus de Energia teria mais sucesso, principalmente na pandemia, se digitalizasse acervos, coleções e visitação, pois, o segmento privado possui capital econômico, compensado com redução de impostos e devolutiva social da imagem da empresa.

 

Referências biográficas

Dra. Janaina Cardoso de Mello, Professora do Departamento de História e do Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

 

Referências bibliográficas

CHIOVATTO, M. In Defense of Museum Education. ICOFOM Study Series, 48(2), 2020. Disponível em: http://journals.openedition.org/iss/2337

 

DODDS, D. “Collecting, Documenting, and Exhibiting the Histories of Digital Art: A V&A Perspective”. In GIANNINI, T.; BOWEN, J. (eds) Museums and Digital Culture. Springer Series on Cultural Computing, 2019, p. 217-229. Disponível em: https://doi.org/10.1007/978-3-319-97457-6_10

 

FERREIRA, I. “Objetos mediadores em museus” in Revista Midas, 4, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.4000/midas.676

 

FREITAS, B. C.; VALENTE, M. G. (Orgs.) Memórias Digitais. O estado da digitalização de acervos no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2017.

 

FUNDAÇÃO ENERGIA E SANEAMENTO. Museus de Energia, 2021. Disponível em: http://www.energiaesaneamento.org.br/unidades.aspx

 

ICOM. “Museos, Profesionales de los Museos y COVID-19” in Informe, 2020. Disponível em: https://icom.museum/wp-content/uploads/2020/05/Informe-museos-y-COVID-19.pdf

 

ICOM. Museum Definition. 2021. Disponível em: https://icom.museum/en/resources/standards-guidelines/museum-definition/

 

ICOM. Recomendações do ICOM Brasil em relação à Covid 19. 2020. Disponível em: http://www.icom.org.br/wp-content/uploads/2020/04/RECOMENDACOES_CONSERVACAO_15_ABRIL_FINAL-1.pdf

 

LÊDO, F. G. M. O papel dos museus para a promoção da comunicação pública da ciência: um estudo de caso do Memorial Aeroespacial Brasileiro. Dissertação. Taubaté/SP: PPG em Desenvolvimento Humano, 2019.

 

MATOS, L. C.; DEL VECHIO, G. H. “Comunicação e Atendimento ao Público: o uso da Internet e de aplicativos móveis para elevar o nível de serviços e estreitar o relacionamento entre pessoas e organizações governamentais” in Interface Tecnológica, 17(2), 2020, p. 55-66.

 

MESSIAS, M. J. M. As Tecnologias de Informação e Comunicação na democratização do Museu: estratégias digitais participativas e inclusivas. Tese. Lisboa: PPG em Museologia/Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2018.

 

MICROSOFT ASP.NET. ASP.NET MVC Overview (C#). 2021. Disponível em: http://www.asp.net/mvc/tutorials/asp-net-mvc-overview-cs

 

MIZUKAMI, L. F.; ARGENTO, M. Museus e Conectividade no Estado de São Paulo 2020. São Paulo: Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, 2020.

 

PARRY, R. “How Museums Made (and Re-made) Their Digital User” in GIANNINI, T.; BOWEN, J. (eds). Museums and Digital Culture. Springer Series on Cultural Computing. Springer, 2019, p. 275-293. Disponível em: https://doi.org/10.1007/978-3-319-97457-6_13

 

POULOT, D. Museu e Museologia. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

 

SAEDE-SP/TIC. “Acesso e uso individual da internet no Estado de São Paulo” in Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros – TIC Domicílios 2019. São Paulo: Cetic.br; NIC.br, 2020.

 

TRINDADE, S. D.; RIBEIRO, A. I.; MOREIRA, J. A. “Museus virtuais interativos enquanto artefactos digitais para a aquisição de competências e conhecimentos. O projeto UC digital” in ALVES, Lynn; VIANNA, Helyom; MATA, Alfredo (Orgs.) Museus virtuais e jogos digitais. Novas linguagens para o estudo da história. Salvador: EdUFBA, 2019, p. 193-203.

 

UNESCO. Museums around the world in the face of COVID-19. Paris: UNESCO Report, 2020.

13 comentários:

  1. Professora, gostei muito de ler seu trabalho, até porque sou paulista e já visitei esse museu. Para a Senhora, faltou visão de futuro da empresa para investimentos em tecnologias digitais mais sofisticadas ou desconhecimento e visão atrasada mesmo de museus como espaços do passado e não de tecnologias aprimoradas quando as instituições não nascem com essa vocação? (Arnaldo Pompeu - Graduando em História do 7° período da UNICAMP).

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  2. Janaina Cardoso de Mello12 de setembro de 2022 às 23:47

    Oi Arnaldo, muito grata por sua leitura e pergunta. Penso que a empresa cumpre seu "papel protocolar" de dar uma devolutiva social, todavia sem se aprofundar no uso de Tecnologias digitais sofisticadas para aprimorar a experiência do Museu como centro de cultura e ensino da história local. Falta interesse corporativo em ver que investimento financeiro nesse segmento não é gasto, mas uma potencialização maior da cidade e da imagem da empresa com muito retorno patrimonial e educacional para a população. Além, de se tornar um atrativo turístico como outros museus em São Paulo. Não acredito que seja desconhecimento, pois há exemplos de museus tecnológicos e há oferta de profissionais qualificados na cidade. Acredito que seja mais a pouca vontade de um compromisso de financiamento tecnológico digital que demanda um montante maior de recursos. Fazem somente o básico e com isso estávamos. [Profa. Dra. Janaina Cardoso de Mello - UFS]

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  3. Profa. Janaina Mello, lendo seu texto gostei muito das tipologias de museus. Vejo que na maioria temos no Brasil mais museus folhetos e virtuais, enquanto os museus interativos são muito raros. Os museus de eletricidade de SP que a Sra. estudou são museus folhetos? O Museu da Língua Portuguesa, recentemente reinaugurado, seria um exemplo de Museu interativo? (Maria Eduarda Santos Calão. 2° período do curso de História - Universidade de São Paulo /USP.

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    1. Janaina Cardoso de Mello14 de setembro de 2022 às 16:45

      Olá, Maria Eduarda, agradeço a leitura e as perguntas. Sim, os museus da eletricidade de SP, por mim pesquisados, se configuram como "museus folhetos ou brochuras". O Museu da Língua Portuguesa é um museu tecnológico com interação, mas não da forma como a tipologia no texto descreve, pois a imersao é presencial e a autonomia na exposição não se aplica. Em SP, o Museu da Pessoa apresenta as características de um museu verdadeiramente interativo, pois possui imersão virtual e confere a possibilidade dos usuários interferir na expografia, publicando relatos e fotos familiares.

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  4. Oi professora Janaina, me chamo Elian, sou aluno da UFBA, mas tenho família em São Paulo é nunca tinha ouvido falar desses museus. Até a comunicação deles é falha, né? Não se preocupam em atrair turistas? Mas o que fiquei pensando é qual conteúdo de História os professores podem desenvolver com alunos da Educação Básica nesses museus? Obrigado!

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    1. Janaina Cardoso de Mello15 de setembro de 2022 às 22:26

      Boa noite, Elian, agradeço por ter feito a leitura do texto e feito perguntas. Então, realmente o investimento em marketing ou releases de imprensa ou mesmo redes sociais desses museus é quase nulo. O público alvo é muito mais escolar e turistas são acidentais. Familiares de alguém que conheça ou curiosos que pesquisam na internet e descobrem por acaso. Mesmo para o público escolar a comunicação ainda é deficitária. Falta um maior diálogo e integração com as Escolas e professores. Mas os professores podem ensinar os conteúdos de História Contemporânea (Revoluções Industriais da 1a até a 4a) usando os museus como laboratórios de observação e aprendizado por analogia e lacunas, podem trabalhar os processos de industrialização, urbanização e a própria história local se São Paulo. Podem trabalhar com a perspectiva do patrimônio cultural industrial, com a história do trabalho, dos operários, luta de classes. Há um manancial de possibilidades. Sejamos criativos!

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  5. Luana Diana Côrtes Pereira15 de setembro de 2022 às 09:30

    Bom dia Profa. Dra. Janaina Mello. Seu artigo me fez querer muito experimentar um museu verdadeiramente interativo. Acho que só conheci até agora os sites de museus folhetos e de museus virtuais. Onde posso encontrar sites de museus verdadeiramente interativos e como esses sites podem ser feitos sem que seja por instituições com muito dinheiro. Ou seja, se pode usar tecnologias sociais, de baixo custo, para criar sites verdadeiramente interativos? As escolas poderiam montar museus ou memoriais verdadeiramente interativos?

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    1. Janaina Cardoso de Mello15 de setembro de 2022 às 23:08

      Oi Luana, boa noite, agradeço a leitura e as perguntas instigantes. Vamos lá. Na verdade existem mais museus interativos com alta tecnologia no plano físico, presencial, do que no virtual, o que é um assombro. Destes cito: o Skyscape de New York, o ArtScience Singapura, o Cité de l'espace na França, o Haus der Musik em Viena, o Museu Espacial de Singapura, o Lisboa Story Centre de Portugal, o Universeum da Suécia, o Catavento Cultural e Educacional de SP, o Museu do Amanhã do RJ e o Museu da Gente Sergipana de SE, por exemplo. Há muitos outros ainda. Mas em termos de sites de imersão com visitação 360° tivemos muitos avanços com a pandemia, porém, os mais sofisticados foram os sites criados para as exposições do CCBB, o site do NEMO de Amsterdã e os clássicos Google Arte & Cultura e Era Virtual. Mas o Museu da Pessoa ainda é o melhor exemplo que permite atuar na curadoria de exposicoes. O uso de Tecnologias Sociais tem sido bem explorados pelos museus e universidades brasileiras em razão do pouco investimento no país nessa área (diferentemente de outros países, mesmo latinoamericanos como o Ministério do Peru, cujo patrocínio misto, público é privado, permitiu que digitalização grande parte de museus e sítios arqueológicos do país com tecnologias sofisticadas). Mas penso que podemos usar a plataforma da linguagem de programação do Scratch (gratuita, de fácil acesso e manuseio) para permitir que o público visitante crie suas animações e enviem um link delas que podem ser incorporados ao site como atividades educativas online em museus, o mesmo pode ser feito ainda com sites de armazenamento de Podcasts (Podbean ou Soundclaud), sites de Vide o com o o YouTube ou VEVO, integranso orientações e criações dos usuários ao site do Museu. É um caminho.

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  6. Luiz Gustavo Martins da Siva15 de setembro de 2022 às 22:28

    Olá, Janaina! Não só gostei do seu trabalho como considero bastante relevante de maneira aplicada. Ficou tudo muito claro, então, minha pergunta é mais uma curiosidade. Do seu ponto de vista, como especialista no tema, quais são os futuros possíveis - de modo até mesmo geral ou recortado em São Paulo - da relação entre museus, comunicação, ensino de História, TDIC?
    Luiz Gustavo Martins da Silva

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  7. Janaina Cardoso de Mello15 de setembro de 2022 às 23:20

    Oi Luiz Gustavo, obrigada pela leitura e pergunta. Eu penso que a História como disciplina escolar só terá um futuro afastado da extinção (à exemplo do que já está acontecendo no Ensino Médio) se houver um investimento em ensino é tecnologias digitais e nesse campo: gameficação digital e museus digitais interativos, inclusive a união das duas perspectivas, são o nosso presente e futuro. Vimos com a pandemia, que mesmo os museus tradicionais que eram resistentes ao digital precisaram se modernizar de algum modo e dispor seu acervo online para não morrerem com o fechamento de portas. É a morte de um museu é também o aumento do desemprego. Vimos desde as criações mais primárias até as mais sofisticadas. Mas ao mesmo tempo nos voltamos para aprender com experiências de tempos anteriores à pandemia como o Museu da Pessoa, em SP. Então, penso que as TDICs não são modismo e que tanto as Escolas como os museus precisam adotá-la como aliadas e não como inimigas. O aprendizado dessas ferramentas precisa ocorrer, independente de momentos de crise sanitária, o acesso de escolas e museus à softwares, atualização de seus profissionais, equipamentos e internet a cabo ou Wifi deve ser garantido pelos governos ou parcerias mistas (público /privado). Não dá mais para agir como os budistas querendo quebrar as máquinas e destruir a tecnologia ou fingir que elas não existem. Temos que aprender a manuseá-las para termos poder de decisão enquanto professores e historiadores. Por isso, para mim, o futuro que já é um presente, é das Humanidades Digitais com ensino de História não apenas pesquisando e analisando IA, IoT, Machine Learning, Robótica, mas criando-as institucionalmente e em parceria escolas/museus. Essa aliança poderá nos empodersr ofertar novos caminhos para nossa jornada.

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  8. Janaina Cardoso de Mello15 de setembro de 2022 às 23:24

    Não dá para agir mais como ludistas* (do Ludismo, quebradosres de máquinas, da Revolução Industrial) - meu corretor trocou a palavra por "budistas", rsss.

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  9. Luiz Gustavo Martins da Silva16 de setembro de 2022 às 16:04

    Rsrs percebi que foi seu corretor, Janaina! Aliás, costumo usar o termo ludismo digital. Eu gostei bastante da sua resposta e intervenção no meu texto também. Observo que não só somos entusiastas e estudamos sobre as TDIC e suas implicações como também temos afinidades. No investimento em ensino e tecnologias, acrescentaria as bibliotecas digitais e virtuais, que como sabemos se tornaram uma "mão na roda" para muita gente, inclusive são geradoras de empregos. As TDIC e as HD não podem ser vistas como modismo, de jeito nenhum, considerar isso é se fechar ao debate e senso comum. Concordo contigo que o futuro é HD, quer dizer, o presente já é das HD, no entanto, às vezes não tem sido considerado. Compartilho da ideia da institucionalização, penso que seja relevante criar disciplinas e cursos no Brasil, ao mesmo tempo que penso, tal como Daniel Alves, sobre a importância da "comunidade de práticas", externa à academia. Aproveito a oportunidade para dizer que estou organizando com dois colegas um dossiê na Revista Antígona da UFT "Humanidades Digitais, Cultura Pop e História", resultado das atividades do MITECHIS. O prazo para submissão de artigos é 20/10. Sinta-se convidada! Link: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/antigona/announcement. Abraços

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